Essa da foto aí, sou eu lendo Rita Lee. Foram duas semanas mergulhadas na história dessa mulher. E que mulher!

Ler Rita me colocou de volta no colo da minha mãe. Que aos sábados pela manhã, lavava roupas ao som de um rádio antigo, e vez ou outra cantava Rita Lee animada.
Lendo suas autobiografias, percebi que nossas histórias se entrelaçam: na minha casa sempre teve mulheres, afazeres domésticos e música. Na casa de Rita também.
Em sua primeira autobiografia ela conta como as mulheres, que rechearam sua vida de amor, sabedoria e cuidado, foram importantes. Ela as chamava de harém.
Eu me reconheci nessa história. Sempre tive um harém. Também fui criada por mulheres, e acho que posso dizer que Rita fez parte.
Ovelha Negra abarcou uma fase tensa da minha adolescência. Eu fui a criança boazinha e a adolescente questionadora e transgressora. Se era para ser feito, eu não fazia e ponto. E no meio de brigas, mentiras e outras “coisitas más” cantava ovelha negra orgulhosa.
Em sua segunda autobiografia, já com câncer de pulmão, Rita me fez reviver a história da doença da minha mãe. Que não tinha câncer, mas também não tinha o ar necessário para viver. Duas mulheres incríveis, cada uma a sua maneira, experienciando o fim da vida de forma parecida.
Ao ler cada uma das páginas, revivi as risadas e as crises de choro dos meses de idas e vindas ao hospital. E digo risadas, porque como Rita, minha mãe nunca se levou tão a sério. Sabia rir de si mesma e daquele situação toda. Foi forte e esperançosa até o fim. A vida sempre se fez presente no processo das duas.
Na morte, mais uma vez, tiveram coincidências. Não deixei que procedimentos invasivos fossem feitos, e minha mãe pode fazer sua passagem de forma tranquila. Com Rita também foi assim.
A morte como nosso último grande ato. Rita me fez ver assim, e concordei.
Vivi isso.
Obrigada Rita, por ter deixado esses escritos e músicas tão pulsantes. Você, sem sombra de dúvida, faz parte desse meu harém tão poderoso. 🧡